Vegetal e Só
O Outono chega de mansinho, instala-se no ar, nas nossas almas, toma conta do nosso estado de espírito. Colore o mundo de mil suaves tonalidades.
E eis que me vem à memória um belíssimo poema de Eugénio de Andrade.
Foto: Karla Moura
(pinha da Mata Nacional de Cabeção)
Vegetal e Só
É outono, desprende-te de mim.
Solta-me os cabelos, potros indomáveis
sem nenhuma melancolia,
sem encontros marcados,
sem cartas a responder.
Deixa-me o braço direito,
o mais ardente dos meus braços,
o mais azul,
o mais feito para voar.
Devolve-me o rosto de um verão
sem a febre de tantos lábios,
sem nenhum rumor de lágrimas
nas pálpebras acesas.
Deixa-me só, vegetal e só,
correndo para um rio de folhas
para a noite onde a mais bela aventura
se escreve exactamente sem nenhuma letra.
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