A entrevista a Carlos Canhoto, contador de histórias e criador de mundos

 

Como é que começou esta tua aventura pela escrita? 

Na minha meninice ficava fascinado a ouvir as histórias tradicionais que a minha mãe contava e depois na escola aprendi com o meu professor a gostar de ler e escrever. E tinha facilidade nas chamadas redacções. Um dia o professor levou-nos o “Trigo e o joio” do Fernando Namora, que foi escrito em Pavia. Eu conhecia algumas das pessoas em que se inspirou o escritor e adorei perceber as voltas que ele deu às suas personalidades para os transformar em heróis da sua história. Deverá ter sido a partir daí que passei a acreditar que também um dia eu poderia escrever alguma coisa – um livrinho para oferecer aos amigos pelo Natal. Não me considero escritor – escritor foi o Namora – um escritor é  muito mais do que um contador de histórias. O grande incentivo para a edição de livros foi o prémio Maria Rosa Colaço, atribuído pela Câmara Municipal de Almada ao texto “O Monte Secou”, em 2006.  

 

O que é que te inspira? 

A vida, as coisas simples e belas – um sorriso, um gesto, a magia e complexidade da mãe natureza.

 

 

Porquê os temas e os personagens que escolhes para os teus livros? Parece-me que estão muitas vezes ligados à natureza, à vida no campo. Procuras trazer a natureza até às pessoas que te lêm? 

Escrevo sobre o pouco que conheço, partilhando esse conhecimento na esperança de ganhar a atenção dos leitores para as coisas que me apaixonam.

 

O que é que a escrita traz à tua vida? 

Bons momentos. Da descoberta em mim de coisas que não sabia que tinha. 

O muito prazer nas partilhas. E dá-me também confiança quando venço os desafios a que me proponho. É sobretudo isso.

Como é o teu processo de construção de uma história?

É diferente de história para história, no último livro “O Baú mágico do meu pai” o desafio foi criar uma história sobre o meu pai a partir de dois objectos que tinham feito parte do seu quotidiano - o Baú e a sua corneta de ferroviário. Não havia uma ideia prévia do enredo, a narrativa foi-se construindo de surpresa em surpresa. Noutros casos sei à partida a história que quero contar, começo por alinhavar um princípio e um fim e depois é só fazer a viagem, que é a parte mais divertida.

 

Tens bloqueios criativos? Se sim, como é que superas? 

Normalmente não, mas por vezes passo horas para chegar à frase certa, ao parágrafo pretendido, à palavra que melhor servirá os objectivos do texto.

 

De todos os livros que escreveste qual é aquele que te fala mais ao coração e porquê? 

Talvez “A minha avó Felicidade”, são memórias raiz, muito fortes, estão na base de todo o meu imaginário.


Como é que as marionetas se vêm juntar a este universo da escrita?  

Adoro marionetas e fantoches, na vida gostaria de ter sido um verdadeiro bonecreiro, entre muitas outras coisas, por isso aproveitei o privilégio de ter público para ir trazendo os bonecos para as sessões, primeiro para me apoiarem nas dinâmicas de apresentações dos livros e, mais tarde, para serem um complemento de valorização desse trabalho. 

 

Se te pedir para te descreveres em três palavras, enquanto escritor, quais as que escolhes?

Não sou escritor. 

 

Nota Biográfica

Chamo-me António Carlos mas escrevo sob o pseudónimo de Carlos Canhoto. Sou alentejano de Pavia, onde nasci a 26 de Maio de 1961. A minha mãe trabalhava na escola primária e o meu pai era ferroviário. Passei as tardes da meninice com a minha avó Felicidade. No inverno brincava à batalha naval na poça do “Curral do Concelho”, com barcos de folha de piteira. Na primavera corria atrás dos pássaros à procura dos ninhos e espreitava as bogas que ao luar subiam os ribeiros para a desova. Hoje vivo num monte, sou apicultor e tenho também uma horta e um pequeno pomar com árvores que eu mesmo plantei e trato. Gosto muito de inventar histórias e de dar vida a fantoches e marionetas. As escolas, bibliotecas e lares são “a minha praia”.

Livros editados:


Barbatanar nas cores do arco-íris – PNL – Casa da Leitura
com Marc Parchow | Pé de Página, 2006 | ISBN: 978-989-614-057-X

o Homem a quem tiraram a idade
Apenas livros / Abril 2006 / ISBN: 989-618-034-2

O Monte Secou (prémio Maria Rosa Colaço 2006)
com Zé Gandaia | Pé de Página, 2007 | ISBN: 978-989-614-058-8

Pirá, a piranhita desdentada – Casa da Leitura
com Marc Parchow | Pé de Página, 2007 | ISBN: 978-989-614-082-3

Pirá (reedição) – Casa da Leitura
com Marc Parchow | Qual Albatroz, 2010 | ISBN: 978-989-95581-4-4

Barbatanar nas cores do arco-íris (reedição) – PNL – Casa da Leitura
com Marc Parchow | Grácio Editores, 2010 | ISBN: 978-989-83770-8-1

Anuro o Sapo Sapinho, o Sapo Sapão
com Rita Goldrajch | Edições Poejo, 2014 | ISBN: 978-989-97411-3-3

Curtinhas à sexta-feira
Apenas livros – Setembro 2014 | ISBN: 978-989-618-477-3

Serei uma plantinha daninha?
Com Danuta Wojciechowska | Lupa Design – Agosto 2015 | ISBN: 978-898-97579-6-7

A minha avó Felicidade
com grãodepó | Garatuja, semeando afetos – Abril 2016 | ISBN: 978-989-206582

Pirilampo, O velho Pescador de Estrelas

Com Paulo Galindro – Edições Garatuja – Semeando Afetos – Março 2018 /ISBN 978-989-20-8241-7

Zi a abelha zonza (manual de apicultura)

/ Germinário – Setembro 2019 / ISBN: 978-989-54274-2-0

O Baú Mágico do meu pai

Com Grão de Pó /Germinário – Dezembro 2020 /ISBN:978-989-54274-8-2

Prémios:


Prémio Literário Maria Rosa Colaço, da Câmara Municipal de Almada, 2006

 

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Comentários

  1. Um grande criador, que me dá a honra de ser seu amigo. Uma das melhores pessoas que conheço.

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    1. Indiscutivelmente um ser humano de muita qualidade e uma mais valia para o concelho de Mora.

      Saudações bloguistas, António.

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