Bruno Requilart, a entrevista ao fotógrafo francês de Pavia

 

Bruno Requillart é um fotógrafo de renome, nascido em Marcq-en-Baroeul, na França, em 1947. Viveu em Paris, estudou na Bélgica e reside actualmente em Pavia, Portugal.

As suas primeiras fotos datam de 1967, tendo-se dedicado à fotografia até 1980.  No ano seguinte, em Paris, decidiu consagrar-se exclusivamente à pintura.

A casa de Pavia, onde vive, é a casa de família de Inês Barahona, sua companheira de vida. Foi aí, em 1995, que recomeçou a fazer fotografia, após uma paragem de 15 anos. Sem nunca ter deixado de pintar. A partir de 2000, a fotografia tornou-se a parte essencial do seu trabalho. Em Paris os espaços são pequenos e o seu atelier transbordava de telas e de fotos. Começou a vir todos os verões a Pavia e, a uma certa altura, instalou em casa um atelier de pintura. Pintava nos meses de bom tempo e fazia fotos durante o resto do ano. Na mesma altura, Bruno Requillart fez uma ruptura de um tendão da mão direita, tornando a pintura um exercício quase impossível. Mais fácil era fotografar com a mão esquerda. Assim, este incidente, ou acidente, levou Bruno Requillart a retomar a fotografia. Actualmente, dedica-se a estes dois amores em alternância.

Bruno Requillart começou por querer ser exclusivamente pintor. Estudou na Escola Superior de Arte Saint-Luc, na Bélgica, onde os seus professores preferidos eram pintores, e isso suscitou o seu desejo de se dedicar à pintura a tempo inteiro.

Bruno vem de uma família do Norte da França, que vivia numa casa geograficamente muito isolada e com pouco contacto com o mundo exterior. Quando terminou os estudos sentiu o apelo de ir ver o mundo. Entretanto, tinha-se interessado pelo teatro e foi ao Festival de Avignon, onde conheceu algumas bailarinas que fotografou e de quem ficou amigo. Um dia foi a Bruxelas e mostrou algumas dessas fotos a Maurice Béjart, famoso bailarino e coreógrafo, que gostou das fotos, se interessou pelo trabalho de Bruno Requillart e lhe abriu as portas dos seus espectáculos para que pudesse fotografá-los. À época quase não existiam máquinas fotográficas automáticas, o que exigia uma regulação constante da luz e da profundidade. O espectáculo de ballet, onde a luz muda constantemente, tornou-se um espaço privilegiado de aprendizagem para o fotógrafo. Evolui para a foto de reportagem. Em França havia uma grande tradição da fotografia humanista, o que incomodava Bruno que achava que havia outros horizontes a explorar. Começou, assim, a fotografar coisas que não eram comuns na época. As suas fotos, juntamente com as de outros fotógrafos da sua geração, criaram um novo movimento e as galerias começaram a interessar-se por esses outros temas. Corriam os anos 70, e o artista tinha então um contrato com uma galeria muito conhecida, em Nova York e em Paris. Na altura não havia museus e exposições de fotografia em França, contrariamente à realidade dos Estados Unidos da América, onde as primeiras galerias e museus surgiram nos anos 30 do século XX. 

A galeria vendia muito dos trabalhos fotográficos de Bruno Requillart, mas foi esse mesmo sucesso que o desencantou. Decidiu suspender o contrato e afastou-se desse meio, que Jean-Paul Godard apelidou de "profissionais da profissão", o que Bruno subscreve. Para ele a arte é liberdade e o meio artístico das galerias é muito competitivo, reprimindo a liberdade artística. Foi nessa altura que conheceu Inês, também ela pintora, que o incentivou a consagrar-se à pintura. 

Fotografou Paris a preto e branco durante 15 anos, incluindo em formato panorâmico, o qual lhe permitia uma outra abordagem dos espaços. Em 2013, o Museu Jeu de Paume, em Paris, dedicou uma retrospectiva à fotografia de Bruno Réquillart. Esta exposição itinerante chegou à Coreia do Sul em 2016. Após o sucesso desta exposição, o fotógrafo voltou àquele país asiático cinco ou seis vezes. Em 2018, iniciou uma colaboração com a Coreia do Sul, da qual resultou um livro de fotografias, em formato 24-36, a preto e branco, chamado A Poética das Formas.

A 22 de Abril de 2023, a convite do executivo da Junta de Freguesia de Pavia, inaugurou a Exposição de Fotografias PAVIA MEU AMOR. A exposição de rua em Pavia é composta por 47 fotos de grande formato, feitas ao longo dos anos, retratando o espaço urbano e o rural. Nesta terra alentejana, a luz, as sombras, o jogo entre as formas e os espaços, são o que capta o seu olhar. O tema é secundário. Portugal, o seu sol, as casas coloridas, dão vontade de fazer fotos cheias de cor. Hoje em dia, o fotógrafo faz exclusivamente fotos coloridas. O registo a preto e branco ficou no passado. Facto curioso, diz Bruno Requillart, é que quando as suas fotos eram monocromáticas as suas telas eram cheias de cor. Hoje, os seus negativos transbordam de cor e os seus quadros são a preto e branco. Talvez o equilíbrio seja o que Bruno busca em permanência. 

Projectos para o futuro? Publicar livros com todas as fotos que tem vindo a fazer ao longo dos últimos anos dos solos, das texturas, de formas que usualmente não ocupam a ribalta das fotos profissionais. 

 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A convite da Junta de Freguesia de Pavia, como já referido, Bruno Réquillart abraçou o desafio de fazer uma exposição fotográfica de rua. Encheu os edifícios públicos, as chaminés e as paredes das casas de fotos tiradas na localidade entre 2000 e 2021. E foi assim que a vila de Pavia se transformou em galeria de arte ao ar livre, acolhendo a primeira exposição do fotógrafo em Portugal, a que chamou Pavia, Meu Amor.

 

A exposição já atraiu visitantes de fora do concelho e do país, para além de muitos dos que aí vivem.

Bruno é o fotógrafo das formas e elas ocupam lugar de destaque nesta exposição. Quer as formas das oliveiras e sobreiros que cobrem os campos alentejanos, quer das casas caiadas da paisagem urbana desta planície ao sul situada. Entre formas e sombras, Bruno Réquillart leva o nosso olhar e imaginação para interpretações que nem ele jamais visualizou nas suas fotos.

   

 

As cores são fortes, quentes. Ou não fossem tiradas de um território onde o sol brilha quase todo o ano e a terra prima. Num breve retorno ao seu passado fotográfico, o artista expõe também fotos a preto e branco.

 

 

 

 

A exposição, inaugurada a 22 de Abril, estará nas ruas de Pavia até 15 de Dezembro de 2023.

 



Bruno Réquillart recebeu o Mora Mundus na sua casa de Pavia numa manhã soalheira. É ali que guarda o seu tesouro de milhares de negativos e fotografias. Entre paredes coloridas, repletas de quadros seus. Uma casa aberta para o horizonte, para a vastidão dos campos alentejanos. Plena de história e de estórias.




 

 VERSION FRANÇAISE

Bruno Requillart est un photographe renommé né à Marcq-en-Baroeul, France, en 1947. Il a vécu à Paris, a étudié en Belgique et réside actuellement à Pavia, au Portugal.

Ses premières photos datent de 1967, et il s'est consacré à la photographie jusqu'en 1980. L'année suivante, à Paris, il a décidé de se dédier exclusivement à la peinture.

La maison à Pavia, où il habite, est la maison familiale d'Inês Barahona, sa compagne de vie. C'est là, en 1995, qu'il a repris la photographie, après une interruption de 15 ans. Sans jamais avoir arrêté de peindre. À partir de 2000, la photographie est devenue une part essentielle de son travail. A Paris, les espaces sont petits et son atelier devient encombré de toiles et de photos. Il commença à venir à Pavia chaque été et, à un moment donné, il installa chez lui un atelier de peinture. Il peignait pendant les mois les plus chaud et prenait des photos le reste de l'année. Au même moment, Bruno Réquillart s'est rompu un tendon de la main droite, faisant de la peinture un exercice quasiment impossible. Il étai plus facile de prendre des photos seulement avec la main gauche. Ainsi, cet incident, ou cet accident, a amèné Bruno Requillart à reprendre la photographie.

Bruno Requillart a commencé par vouloir être exclusivement peintre. Il a étudié à l'École Supérieure d'Art de Saint-Luc, en Belgique, où ses professeurs préférés étainent des peintres, ce qui lui a donné envie de se consacrer à la peinture à plein temps.

Bruno est issu d'une famille qui habittait au Nord de la Frande, dans une maison très isolée geographiquement à la campagne, ayant très peu de contact avec léxterior, et lorsqu'il a terminé ses études, il a ressenti l'appel d'aller voir le monde. Parallèlement, il s'intéresse au théâtre et se rend au Festival d'Avignon où il rencontre des danseurs qu'il photographie et avec qui il se lie d'amitié. Un jour, il se rendit à Bruxelles et montra les photos qu'il avait prises de ces danseuses. Maurice Béjart, danseur et chorégraphe, aime les photos, s'est intéresse au travail de Bruno Requillart et lui a ouvert les portes de ses spectacles pour les photographier. À l’époque, il n’existait quasiment pas de caméras automatiques, ce qui nécessitait une régulation constante de la lumière et de la profondeur. Le spectacle de ballet, où la lumière change constamment, devient un espace d'apprentissage privilégié pour le photographe. Cela a évolué vers une photo de reportage. Il existait en France une grande tradition de photographie humaniste, ce qui dérangeait Bruno, qui pensait qu'il y avait d'autres horizons à explorer. Ainsi, il a commencé à photographier des choses qui n’étaient pas courantes à l’époque. Ses photos, comme celles d’autres photographes de sa génération, ont crée un nouveau mouvement et les galeries ont commencé à s’intéresser à ces autres thématiques. C'était dans les années 70, et l'artiste avait alors un contrat avec une galerie très connue à New York et à Paris. À l’époque, il n’existait pas de musées ni d’expositions de photographie en France, contrairement à la réalité aux États-Unis d’Amérique, où les premières galeries et musées sont apparus dans les années 1930.

La galerie vendait beaucoup de tirages de Bruno Réquillart, mais c'est ce succès même qui l'a déguté. Il a décidé de résilier le contrat et s'est éloigné de ce milieu que Jean-Paul Godard qualifiait de « professionnels de la profession», une expréssion qui plaît beaucoup à Bruno. Pour lui, l’art est liberté et l’environnement artistique dans les galeries est très compétitif, réprimant la liberté artistique. C'est à cette époque qu'il a rencontré Inês, elle aussi peintre , qui l'encourage à se consacrer à la peinture.

Il a photographié Paris en noir et blanc pendant 15 ans, notamment en format panoramique, ce qui lui a permit une approche différente des espaces. En 2013, à Paris, le Musé Jeu de Paume a consacré une retrospective à Bruno Réquillart et cette expo itinerante est arrivée en Corée du Sud en 2016. Suite au sucés de cette expo, le photographe a retourné cinq ou six fois lá-bas. En 2018, il a entamé une collaboration avec la Corée du Sud qui aboutit à un livre de photographies, au format 24-36, en noir et blanc, intitulé La Poétique des Formes.

Le 22 avril 2023, à l'invitation de la Mairie de Pavia, l'exposition de photographies PAVIA MEU AMOR a été inaugurée dans le village du même nom, à Alentejo. L'exposition de rue est composée de 47 photos de grand format, prises au fil des années, représentant l'espace urbain et rural.

À Alentejo, la lumière, les ombres, le jeu entre les formes et les espaces attirent le regard du photographe. Le sujet est secondaire. Le Portugal, son soleil, ses maisons colorées, donnent envie de prendre des photos pleines de couleurs. De nos jours, le photographe prend exclusivement des photos colorées. L'enregistrement en noir et blanc appartient au passé. Un fait curieux, dit Bruno Requillart, c'est que lorsque ses photos étaient monochromes, ses toiles étaient pleines de couleurs. Aujourd'hui, ses négatifs débordent de couleurs et ses peintures sont en noir et blanc. Peut-être que l’équilibre est ce que Bruno recherche constamment.

Des projets pour l'avenir ? Publiez des livres avec toutes les photos qu'il a prises au cours des dernières années de sols, de textures, d'une manière qui n'occupe généralement pas la vedette dans les photos professionnelles.

Comentários

  1. Respostas
    1. Carlos, o Bruno Réquillart é um entrevistado que faz por si só uma boa entrevista. Tem uma obra linda para mostrar e fá-lo com afecto e simplicidade.

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