Associação dos Amigos da Natureza de Cabeção - Passado e Presente
A Associação dos Amigos da Natureza de Cabeção (AANC) é uma das associações mais antigas do concelho de Mora e com mais e maior diversidade de actividades, diz-nos José Aleixo, presidente da associação que amavelmente acedeu a falar ao Mora Mundus.
Foi fundada em 1987 e conta no seu portefólio com inúmeras actividades de protecção do ambiente e de divulgação do património natural do concelho. Através de vários protocolos e parcerias com autoridades dentro e fora do concelho tem potencializado os recursos disponíveis e realizado actividades para uma faixa alargada da população, dirigindo-se quer a escolas locais, quer a adultos de todos os pontos do país.
Para além da vigilância da floresta, a AANC tem quatro actividades emblemáticas: a Iniciação às Aguas Bravas, o Eurobirdwatching Charcas Vivas, as Comemorações do Dia Mundial do Ambiente, as Comemorações dia Internacional da Floresta e a Descida Ribeira de Seda.
Eurobirdwatching Charcas Viva / Observação de Aves
Conheça a vida desta associação pela mão de José Aleixo. Leia a entrevista!
1 - COMO É QUE NASCEU A ASSOCIAÇÃO?
A história da Associação dos Amigos da Natureza de Cabeção remonta a
1984, quando um grupo de jovens residentes na região começou a
aprofundar o conhecimento das riquezas da fauna local onde nos inserimos. Foram também impulsionados pelos primeiros trabalhos científicos sobre fauna
levados a cabo pela antiga Estação Florestal Nacional (EFN) na região.
Esse grupo de jovens tornou-se bastante coeso e que começou a
colaborar em alguns levantamentos de investigação que nos anos 90 veio classificar a região como o Sítio de
Cabeção Rede Natura 2000. http://www2.icnf.pt/ portal/pn/biodiversidade/ rn2000/resource/doc/sic-cont/ cabecao
No
entanto, havia a necessidade dispor de material de apoio e de uma sede. Com apoio do Investigador da EFN, o Engenheiro Nuno Onofre, esse grupo de jovens
formou o Núcleo de Cabeção da Liga para a Protecção da Natureza (LPN).
Aliados à LPN começou o Núcleo a receber a titulo de empréstimo algum material,
tal como Binóculos / Câmaras Fotográficas / Cartas Militares para a
realização dos primeiros censos de aves e mamíferos dados estes que
apoiavam a AFN e LPN. A primeira sede foi cedida pelo o ilustre
cabeçanense Dr. Rui Lopes Aleixo, tendo sido aí que o Núcleo começou a cimentar
as actividade de difundir os trabalhos de identigicação de espécies em declinio na região e de actividades desfavoráveis para espécies e ambientes, de forma a sensibilizar para a defesa e
protecção de espécies silvestres. Começou também a realizar as
primeiras exposições de fotografia e de fauna viva irrecuperável para devolver à natureza e ainda a apresentação de filmes no Concelho de Mora e nas escolas da região.
2 - QUANDO?
Em 1987 durante uma assembleia geral do Núcleo de Cabeção da Liga para a Protecção da Natureza, foi decidido por
unanimidade criar uma associação própria com o nome de Associação dos
Amigos da Natureza de Cabeção e sediá-la na freguesia de Cabeção. O que
viria a acontecer com o registo no cartório de Viana do Alentejo, em 29
Junho de 1987.
3 - QUEM FORAM OS MEMBROS FUNDADORES?
Na
sua maioria eram moradores da Freguesia de Cabeção mas também da
Freguesia de Mora com idades compreendidas dos 18 aos 25. Consta nos
registos da acta os seguintes elementos:
António Luís Nunes Vinagre Araújo, Custódio Godinho Milheiras Martinho, Eduardo Jorge Matos Aleixo, Francisco Manuel Leitão Figueira, Hélder António Henriques Marques, João André Canelas Pinto, José Joaquim Mira Pinto, José Manuel Freire Vieira, José António Figueiredo Fernandes, Mário João Pires dos Santos, Maria L. e Orlando Paulo Vaz Marques Canelas.
4 - QUAIS OS PRINCIPAIS OBJECTIVOS?
Com a criação da AANC como instituição colectiva sem fins lucrativos,
os seus objectivos foram os da criação de actividades que permitissem potencializar o que se
identificava serem mais valias da região, destinando-se a
sócios e à população local.
Os principais objectivos são:
- Defesa do ambiente, património natural, conservação da natureza e a promoção da qualidade de vida;
- Promover e desenvolver a cultura e recreio entre os seus associados e a população em geral;
- Promover o empreendimento de actividades de interesse local e nacional, em estreita colaboração com a Autarquia local e entidades competentes.
Actualmente as actividades desenvolvidas pela AANC são vastas, chegando a
realizar actividades de que aliam a vigilância das florestas e a acção
social, através da criação de postos de trabalho para jovens ou desempregados do
concelho de Mora.
A Associação atingiu uma dimensão nacional através da organização bianual da descida da Ribeira de Seda. Cada edição tem cerca de 100
participantes na água, vindos de todos os pontos do País. É uma actividade que dinamiza todo a região, visto que
cada edição tem a duração de dois dias seguidos, levando a que os participantes permaneçam no concelho durante estes dias. Assim, a associação contribui para a divulgação da região e para a dinamização da economia
local, nomeadamente para a ocupação dos alojamentos turísticos da região e da restauração.
É gratificante para a Associação saber que os participantes que
optam por tornar-se associados da AANC efectuam os seus planeamentos de férias pensando
na participação deste evento. É realmente um evento que ninguém
fica indiferente, diz José Aleixo.
Descida da Ribeira da Seda
Durante a Primavera e Verão realizam em todo o concelho de Mora inúmeras
actividades abertas aos seus associados e ao público em geral. Tendo já
o reconhecimento das populações não residentes no concelho de Mora e
por entidades nacionais almejam atingir mais visibilidade a nível local e
ver o seu trabalho igualmente valorizados pela população da terra a que
pertencem. O plano de actividades 2019 atingiu uma taxa de execução de 80%.
6 - QUE PARCERIAS DENTRO E FORA DO CONCELHO DE MORA?
- Protocolo Mora 1
Estabelecido entre
a Câmara Municipal de Mora e a AANC contempla a cedência de instalações da
escola primária n2, em Cabeção para serem utilizadas como sede da Associação. Aí está instalado o secretariado da AANC, bem como o espólio de material, sendo igualmente o local onde se realizam as
acções de formação teóricas de canoagem e sensibilização ambiental.
- Protocolo Mora 2
No âmbito deste protocolo a AANC partilha com o comando distrital da
GNR de Évora a Torre de Vigilância a Incêndio, localizada na Herdade da
Madredeus. Fora da época de incêndios esta torre serve de posto de observação aves e durante época de incêndios dela se assegura a vigilância das
florestas, num raio de cerca de 50 quilómetros. O transporte de todos os componentes da torre foi assegurado pela Câmara Municipal de Mora.
O
protocolo da torre de vigilância inclui o Proprietário (Herdade da Tramageira Sra. Maria Benedita M.F.R. Calisto) que dá acesso
pedestre ao local e permitiu a sua implantação, os Bombeiros Voluntários
de Mora que têm acesso à torre quando em serviço e a AANC, atual
proprietário da infraestrutura.
Todos os anos a AANC realiza nesta torre projectos de vigilância com jovens voluntários e também com a população desempregadalocal. Nesta acção para as pessoas desempregadas a associação emprega fundos próprios e donativos feitos por alguns proprietários da
regiã. Em 2017 contou também o apoio financeiro de 100€ de cada uma das
freguesia do concelho.
O grande objectivo da AANC no que toca a vigilância da floresta é de conseguir 2 000 euros de denotivos e subsídios, o que lhe permitiria
guarnecer a torre durante 12horas por dia durante os três meses críticos
de incêndios.
- Protocolo Mora 3
Estabelecido com o Clube de Campismo de Lisboa (CCL), entidade que
gere o Parque Campismo do Gameiro, este protocolo permite que todos
os 1029 associados da AANC possam utilizar o Parque de Campismo do Gameiro , usifruindo dos mesmos preços que os sócios do CNL. Em contrapartida, todos os sócios do CCL
podem participar nas actividades da AANC, gozando das mesmas condições dos
associados desta.
- Protocolo Sociedade Para Estudo das Aves (SPEA)
Estas "Áreas Importantes" são os locais prioritários para a conservação das aves em perigo. São reconhecidas internacionalmente e identificadas através da aplicação de critérios científicos. São também consideradas pontos estratégicos para a observação de aves.
A principal tarefa do Vigilante, não sendo um perito ornitólogo, é a de fornacer informção sobre qualquer assunto que possa afectar a IBA, tais como empreendimentos turísticos, mortandade de aves, estudos de impacto ambiental, etc. Além disso, o vigilante fornece apoio às acções realizadas pela SPEA naquela IBA.
Chamariz ou Milheirinha (Serinus serinus)
Bastante comum no Sítio de Cabeção e em todo Portugal continental
Bastante comum no Sítio de Cabeção e em todo Portugal continental
- Parceria Mora 1
Através desta parceria a AANC cede o seu equipamento náutico aos da associados da Associação de Divulgação Cultural de Mora ao abrigo da doação do seu antigo náutico e sempre fora dos seus eventos.
- Parceria Mora 2
Em 2019, a AANC associou-se como Parceiro / Patrocinador Hotel Solar dos
Lilases, assegurando um desconto no aojamento a todos os associados
participantes em actividades que fiquem alojados no hotel.
- Parceria com Associação de Canoagem da Beira Baixa (ACBB)
A AANC partilha
com esta associação todos os seus equipamentos náuticos e meios humanos
de durante as actividades de rio. A AANC garante a
formação Inicial em Aguas Bravas e autoresgate a todos os associados da ACBB.
Iniciação às Águas Bravas
- Parceria com o Clube de Canoagem Aguas Bravas de Portugal (CCABP)
A AANC realiza acções de formação de Iniciação às Águas Bravas e Esquimotagem e Auto-resgate a Sul de Portugal. No âmbito desta parceria também realiza e representa o Clube de Águas Bravas de Portugal nas Ações de Esquimotagem
no complexo desportivo de Almada.
- Parceria com Instituto Conservação Natureza e Florestas (ICNF)
Esta parceria visa uma acção conjunta na
reestruturação da Mata Nacional de Cabeção, nomeadamente
a colocação e monitorização de ninhos artificiais para aves (de cortiça e
cabaças), construção de marouços para coelhos, colocação de hotel
para insectos, a colocação de armadilhas para plátipo, plantações de espécies
aromáticas e melíferas, aproveitamento de renovo de sobreiro e
azinheira, podas de formação de regeneração de sobreiro e azinheira,
percursos pedestres, entre outros.
A AANC tem vindo a efectuar a motorização de fauna dentro da Mata Nacional de Cabeção, tendo nos últimos anos assinalado à comunidade científica nacional a presença de quatro novas espécies com presença permanente e reprodução na Mata Nacional ( Corça / Gamo "não autoctene" / Esquilo Vermelho e Açor).
A AANC tem vindo a efectuar a motorização de fauna dentro da Mata Nacional de Cabeção, tendo nos últimos anos assinalado à comunidade científica nacional a presença de quatro novas espécies com presença permanente e reprodução na Mata Nacional ( Corça / Gamo "não autoctene" / Esquilo Vermelho e Açor).
Corça
O grande desafio para o futuro é o de manter o nível de actividades já alcançado, tarefa de monta dada a escassez de recursos humanos e
financeiros. Sendo a Associação sido sempre dinamizada por camadas jovens a sua actividade está a ser afectada pela diminuição progressiva do número de jovens no concelho. Actualmente a massa associativa é constituída por pessoas que se situam nas faixas etárias dos 30 aos 50 anos, maioritariamente residentes do fora do concelho. Apesar destas limitações, a Associação mantém-se empenhada em criar
atractividades todos os jovens residentes em Portugal, proporcionando-lhes momentos de aprendizagem e de lazer que lhes permitem desfrutar das riquezas da região.
Apoio a atividades escolares da Escola Profissional Abreu Calado
A Associação tem vindo a criar os chamados circuitos ambientais para a região, que têm simultaneamente de ter interesse paisagístico
e faunístico e de salvaguardar o ambiente, reduzindo ao mínimo o impacto ambiental decorrente deste
tipo de percursos. Actualmente, a AANC tem cerca de 10 percursos definidos e
testados. A sua realização depende da autorização de acesso aos público por parte dos proprietários dos terrenos, pelo que só podem efectuar-se mediante marcação prévia de datas e com grupos pequenos. Para 2020, a Associação irá lançar oficialmente mais dois
percursos devidamente marcados e autorizados.
Alertar a comunidade e entidades para a realidade da alteração
climática e seu impacto no meio envolvente, nomeadamente sobre a importância do combate a espécies
invasoras, é outro dos projectos para manter no futuro.
- Em 2016, a AANC alertou para a presença do Jacinto de Água no concelho de Mora e dos seus efeitos negativos no ecosistema aquático. Espécies como o Almeijão-pequeno (Anodonta anatina), o Almeijão-grande (Anodonta cygnea), a Náiade-negra (Potomida littoralis), a Náiade-comum (Unio delphinus) e a Náiade-pequena (Unio tumidiformis), extremamente sensíveis ao impacto desta planta.
- Importa alertar as autoridades competentes para a necessidade de combater espécies piscícolas invasoras que rapidamente se adaptaram aos locais e que estão a proliferar nos cursos de água. Essas espécies são os Lúcios (Esox lucius), o Lúcio-Perca (Sander lucioperca
), o Peixe Gato (Silurus glanis) e outros invasores já existentes (Perca-sol (Lepomis gibbosus) e Achigã (Micropterus Salmoides) introduzidos no século XIX) que irão levar a curto prazo à extinção das espécies autoctenes da região, sendo elas o Bordalo (Squalius alburnoides)e a Boga (Chondrostoma polylepis).
- A protecção das espécies autóctones da região exige também que se sensibilizem as populações para o perigo de lançarem nos rios as chamadas Tartaruga da Florida (Trachemys scripta) e Tartaruga Chinesa (Chinemys reevesii). Embora colocadas inocentemente nos cursos de água quando atingem grandes dimensões em casa acabam por competir com as espécies autóctones.
Fotos: gentilmente cedidas pela AANC
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